É como estar observando o processo gradativo do crepúsculo nascente. Como se pudesse ver, sob uma ótica mais intensa, o escuro profundo ganhando uma branda claridade conforme o Sol vai evidenciando sua presença no horizonte. Essa energia cheia de frescor e leveza é a mesma proporcionada pelo instrumental introdutório, o qual é, ainda, agraciado por saborosas doses de dulçor.
Ainda que de natureza essencialmente sintética, a composição é capaz de levar o ouvinte para uma experiência de torpor curiosamente graciosa. Um torpor que se mostra suficientemente consistente na tarefa de tirar, do espectador, o peso da rotina, as preocupações do dia a dia e, inclusive, os próprios medos que fazem surgir súbitos de insegurança e vulnerabilidade.
O interessante é notar que, nesse ínterim, a composição consegue proporcionar ao ouvinte a identificação de chiados que circundam a paisagem sonoro-sensorial. Por meio deles é que, inclusive, a obra se permite enveredar por flertes de lo-fi que marcam o seu ecossistema, mas que não prejudicam a experiência oferecida.
Eis que quando a audiência se via conformada com a realidade de se tratar de uma composição instrumental, o enredo lírico surpreende ao ganhar vida por meio de uma voz feminina de caráter agudo, mas de base suavemente ácida. Com ela, LivinLife-NeedU acaba sendo agraciada por uma noção de movimento que, além de beirar a sensualidade, promove um ligeiro senso de agitação.
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