Não existe uma introdução convencional, com instrumental se pronunciando de forma gradativa. Aqui, a canção já nasce de forma minimamente madura, em pleno primeiro verso. Já fornecendo a sintonia entre voz e guitarra, fator que evidencia uma sincronia de sabor adocicado e levemente aveludado, a canção desfila silhuetas ainda mais delicadas conforme o piano vai fornecendo sua contribuição de maneira pausada e a bateria vai fornecendo uma base rítmica curiosamente fresca em sua leveza estrutural. Na forma de um indie rock que flerta brevemente com a roupagem da new wave graças ao sobrevoo do toque digital do sintetizador na base melódica, Bedwetters é uma canção com escultura rítmico-melódica linear que entorpece o ouvinte em meio à sua delicadeza açucarada.
O chimbal é ouvido de maneira frágil com seu sonar seco pronunciado de forma tão leve que seu sonar parece sumir com a brisa do vento. Enquanto isso, um sonar agudo e brevemente aveludado começa a ganhar espaço e definindo a delicadeza como um fator a reger a nova atmosfera, tal como aconteceu na canção anterior. No entanto, mais do que em Bedwetters, aqui na faixa-título a maneira com que o cantor emprega seu canto dá à presente atmosfera um caráter sereno, mas tocante e denotativamente aconchegante que chama sem dificuldade a atenção do ouvinte. Por meio de sua ambiência despreocupada e sua textura aveludada, a faixa vem como uma espécie de som do relaxamento em virtude de sua estrutura leve como a brisa. Com o teclado entregando um novo tipo de dulçor e outra voz, mais grave, assumindo o posto de backing vocal, a obra garante para si uma crescente harmônica por meio da combinação de sabores que contrabalanceiam a embriaguez surtida pela densa maciez.
É curioso. Afinal, com apenas alguns segundos de uma sonoridade sintética, o ouvinte consegue se sentir não apenas em contato com o espaço, mas se perceber observando a imensidão do universo pelas lentes de um telescópio sob uma visão curiosamente juvenil. Como se estivesse propondo o rompimento da ingenuidade de criança e a aquisição da noção da imensidão da vida e da pequenez do ser humano, a canção apresenta uma curiosa paisagem que narra certo recorte de uma família aparentemente tradicional. Transpirando certo grau de sentimentalismo na maneira como traz o enredo lírico, o cantor faz de Televangelist o que parece ser a descrição da forma como a fé age sobre os personagens da presente história.
Não há brecha para discussão. A primeira conclusão que Another State deixa ao ouvinte é a de que o Seafarers consiste em uma banda expoente do indie rock. Outra importante confirmação é o domínio que o grupo tem no ato de construir atmosferas melódicas macias, serenas, delicadas e com um viés aconchegante.
Perceptíveis já a partir das três primeiras canções do álbum, essas percepções são amplificadas pelos aromas florais e pelos sabores adocicados que cada canção fornece ao espectador. No mais, é importante mencionar, também, o domínio do falsete por parte do vocalista, o qual demonstra consistência e plena consciência dessa técnica a ponto de manter o mesmo tom em grande parte dos enredos líricos que, por sinal, recebem, dele, grande sentimentalismo.
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