A maneira como o piano surge desenhando os primeiros contornos da introdução já conferem ao cenário uma atmosfera não somente introspectiva, mas densamente melancólica. Doce e fresca, mas de postura generosamente entristecida, a paisagem que o instrumento sugere é monocromática em seu tom de cinza e abraçada por uma chuva fina, mas insistente.
Conforme novos elementos sonoros vão assumindo seus postos, a canção vai sendo tomada por uma energia tocante em sua essência curiosamente visceral e chorosa. Como se representasse um indivíduo necessitado de apoio, de socorro e de um abraço para que se permita extravasar, em lágrimas, a angústia e a dor, a canção vai evoluindo gradativamente para uma energia contagiantemente introspectiva.
No momento em que Lonely Dirt Road atinge seu primeiro verso, ela passa a ser regida por uma voz masculina de timbre grave e fanhoso. Vinda de Dax, ela é a responsável por dar vida a um lirismo que se sintoniza perfeitamente com a atmosfera proposta pela melodia orgânico-sintética até então ofertada.
Interpretado de maneira delicada, mas que evidencia certo grau de agonia, o lirismo, acompanhado de um beat sincopado e pausado a ponto de inserir conotações dramáticas em sua contribuição, escancara um indivíduo em processo de isolamento. Um isolamento que lhe permite introspectar, refletir e encontrar harmonia em sua própria companhia em um processo de autoconhecimento em que dores e alegrias ocupam o mesmo espaço.
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