Machine | Em novo álbum, James Hurst traz uma experimental exploração da relação social com a tecnologia

O som estridente e levemente ácido serve como um ousado abre-alas de texturas. Crescendo em presença a partir de sonares ainda mais experimentais e de caráteres indecifráveis, a canção vai conseguindo, de maneira surpreendente, construir um ambiente sonoro audaciosamente cativante em sua verve embrionariamente dançante. Podendo ser possível perceber a contribuição do sintetizador em meio ao que parece ser uma espécie de propositada poluição sonora, Boot passa a exalar um aroma interessantemente new wave por meio de sua base tecnológica. É então que, seguindo o padrão das músicas eletrônicas, ela assume uma crescente até, surpreendentemente, ocorrer uma espécie de marasmo melodicamente entorpecente. É nesse momento que Boot apresenta versos sonoros de crescentes harmônicas e uma ambiência facilmente de se identificar como uma expoente da house music.

O novo ambiente já começa regido por um som ácido à beira da estridência. Enquanto isso, o beat vem assumindo silhuetas mais marcantes e presentes, construindo, assim, uma base rítmica mais consistente. De essência ondulante e hipnótica, a canção garante uma atmosfera propositadamente montada na intenção de ser, de fato, dançante. Leve, descontraída e até com toques agradáveis de frescor, Input tem sua harmonia requerida pelos macios movimentos com que as notas agudas, semi-aveludadas e quase estridentes do sintetizador se pronunciam. De ambiência noturna, mas não indicada para momentos de pico de festa, Input vem mais como a sonorização daquele instante contemplativo e crepuscular. 

Entre o sintetizador de notas tremulantes e gélidas, o ouvinte consegue perceber surpreendentes inserções de groove por meio da sonoridade sintética. Regida por um ritmo capaz de construir aquele típico putz-putz popularmente padronizado como uma essência da música eletrônica, Again segue os caminhos trilhados por Input não apenas por ser de uma estrutura organicamente dançante, mas também de ter sua base na house music. Mais alegre e ativa, e, portanto, mais indicada para os momentos iniciais das festas focadas em interação corpo a corpo, a canção traz um quê de sensualidade inerente em sua sonoridade tecnológica. O interessante, nesse ínterim, é notar que, no fundo, se percebe um sonar constante e linear em sua gelidez aveludada e curiosamente reconfortante, capaz de assumir caráteres embriagantemente transcendentais. Eis então que, inconscientemente, o ouvinte acaba perdendo a lucidez e entrando em um ambiente profundamente regido pela alucinação aveludada do momento.

Machine é, de fato, um álbum de cunho experimental. Montado como um perfeito expoente da música eletrônica, ele se baseia principalmente nas receitas melódicas da house music para explorar texturas ácidas e estridentes, mas também dançantes, gélidas e entorpecentes. É com esse trabalho instrumental e sintético em sua essência digitalizada que James Hurst escolheu discutir com seu ouvinte, mesmo que de forma inconsciente, o tema da relação social para com a tecnologia.

Mais informações:

Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/3nUxWyJA0pmE30Mjxd1ms4

Site Oficial: https://www.jameshur.st/

Soundcloud: https://soundcloud.com/taptapio

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