Para os brasileiros, um bálsamo, uma grande homenagem. Logo na primeira trinca de abertura de Natural Impressions, a italiana Mafalda Minnozzi apresenta releituras macias, harmoniosas e aconchegantes de clássicas canções da MPB e da bossa-nova. Águas De Março, Começar De Novo e Mas Que Nada, antes de qualquer coisa, mostram a versatilidade da cantora e sua habilidade nas pronúncias, quase impecáveis, do português brasileiro.
Transformando o agito do samba em exemplares jazz despropositadamente sensuais em suas delicadezas, Mafalda, mesmo a partir de suas reinterpretações, mantém a essência de cada canção, seu frescor e sua malemolência, transportando o ouvinte para, desde o calçadão da Lapa carioca a passeios pelas ruas do centro de São Paulo.
Da parceria entre Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, Mafalda escolheu reinterpretar Inútil Paisagem, canção que, inclusive, ganhou versão em inglês sob o título If You Never Come To Me, recebendo lirismo de Ray Gilbert. Adoravelmente jazz, a edição da italiana faz com que o ouvinte se sinta em um bar jazz de Nova Orleans assistindo e admirando os dedilhares do piano e a improvisação no pequeno palco ao centro do ambiente.
Diretamente da França, Ne Me Quittes Pas, de Maysa Matarazzo, foi selecionada. Mantendo seu dulçor e sua delicadeza, a versão de Mafalda consegue fazer transpirar o folk parisiense com os sonares florais do clarinete e dos sutis dedilhares do violão. Mas, além dela, outros clássicos ainda receberam toques pelas mãos de Mafalda.
De sua terra natal, E Penso A Te surge trazendo uma sensualidade denotativa criada, principalmente, pelos wah-wahs da guitarra, pelos tilintares do piano e pelo groove provocativo do baixo na base melódica. É assim que o romance, a sedução e o clima apaixonante preenche o ambiente de Natural Impressions.
Com carisma, educação, generosidade e versatilidade, Mafalda Minnozzi presenteia o público global com um álbum não apenas repleto de releituras de clássicas obras do jazz, do samba e da MPB. Ele proporciona um recomunicar da qualidade musical fora do eixo EUA-Inglaterra.
Ele é um material que explora as nuances de cada localidade global mantendo sua essência e proporcionando novas doses de frescor. Valorizando principalmente as obras de cantores brasileiros, não faltou oportunidade para que o ouvinte revivesse, mesmo que pelo imaginário, os anos 60 e 70 do auge da MPB e da popularidade da bossa-nova.
O curioso é que, mesmo revisitando canções de outras nacionalidades, parece que, por escolha própria, Mafalda quis manter a malemolência brasileira em cada uma das músicas readaptadas. Um grande trunfo e feito com demasiada sabedoria tanto musical quanto de idioma.
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