É como ouvir as vozes do inconsciente ecoando pelos confins da mente. Uma espécie de autoalucinação penetrante e incontrolável. Em meio à completa ausência de lucidez, o espectador se vê refém de si, enquanto uma sonoridade sintética vai surgindo e incentivando seu senso de descontrole. Promovendo a tensão e um sentimento de enigmatismo, a sonoridade, conforme vai experimentando tomadas cada vez mais estridentes em seu azedume hipnótico, coloca o espectador em um processo de transe profundo e intenso. Quando o público já se conformava com a percepção de se tratar de uma obra instrumental, uma voz masculina de timbre agridoce e de cunho curiosamente digital surge em cena desenhando o enredo lírico. Por meio dele, Beyond The Thread The Spinners Span coloca o ouvinte em uma atmosfera agora madura em seu caráter psicodélico associado a um ousado toque de esoterismo.
A estridência é o elemento que destaca a essência da sonoridade desse novo capítulo desde seu imediato amanhecer. Rapidamente acompanhada de uma voz que soa sussurrante e interessantemente assombrosa, a sonoridade passa a experimentar tensão e a difundir sensos de insegurança e medo no ouvinte. Tal como se fosse a voz de um ser vindo de outro mundo trazendo uma mensagem trágica para a humanidade terráquea, Everyone Is Ended, por meio de sua cama melódica adocicadamente ácida, confere uma ambiência audaciosamente mórbida e caótica que contamina o espectador.
Surpreendentemente, o que se tem na nova introdução é uma cenografia sintética, mas bela em sua essência. Calma e branda, além de ser capaz de surtir agradáveis sensos de conforto consciente, sem a necessidade de intervenções extras que incitem o torpor, a canção, através dos golpes de sons semelhantes aos do bumbo desenhando a cadência melódica, além de contar com a contribuição da agudez açucarada da flauta perambulando pela atmosfera, passa a oferecer ao ouvinte uma espécie de introspecção solar. Por meio de um vocalista que agora surge com uma interpretação lírica mais suave e que propõe sensos de leveza associados ao bem-estar, a faixa-título é como uma prece pedindo por um mundo belo em que a saúde e os sensos de aconchego e acolhimento são fatores essenciais e predominantes na vida dos cidadãos.
Conversations With Angels é um álbum em que o The Tearless não apenas explora texturas e ambiências sensoriais e imagéticas. É onde existe a capacidade da introspecção em busca do máximo senso de bem-estar. Onde o autoconhecimento é algo inevitável. Um produto que tira o ouvinte de seu senso de lucidez e o transporta, ainda que por breves momentos, em um mundo utópico.
Banhado por paisagens sonoras estridentes que comunicam uma singela imersão na roupagem stoner, o álbum, já a partir de suas três primeiras canções, propõe uma imersão no post-rock em meio a generosos mergulhos em temáticas esotéricas e psicodélicas. A partir delas, o The Tearless coloca o espectador no contato com um pop ainda mais moderno, tecnológico e, acima de tudo, charmoso.
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