Pelo sonar tilintante, é como se o ouvinte fosse convidado a imergir no mundo utópico dos sonhos ou mesmo nas profundezas de seu próprio universo inconsciente. De natureza inquestionavelmente hipnótica, esse viés melódico vai dando lugar a uma levada percussiva de essência nativa que, curiosamente, desperta uma silhueta sensual, no mínimo, excêntrica. O interessante aqui é notar que, nem mesmo a guitarra, posta em cena sob movimentos rebolantes, consegue quebrar o lapso de torpor ou até auxiliar na redução do favorecimento da libido. Em verdade, porém, Gold Dust Dervish se configura como um instrumental folk de ambiência surpreendentemente árabe que interage diretamente com o sombrio.
Enquanto um sonar áspero e estridente em sua forma sintética impera brevemente na atmosfera, o beat, em meio à sua natureza eletrônica, entra em cena de forma sincopada e sensual capaz de proferir um senso que, além do contagiante, chega a ser até mesmo dançante. De volume crescente e de essência cada vez mais entorpecente, é interessante perceber o experimentalismo que Ultrassonic transpira ao entregar ao ouvinte a oportunidade de se deleitar perante o groove encorpado e saliente do baixo. Quase como uma expoente da vertente drum n’ bass, a presente composição ainda desfila certa audácia ao trazer, com certo destaque, a guitarra e sua respectiva distorção ácida.
É como se certo grau de calmaria enfim fosse ofertado à audiência. Um oásis de relaxamento e torpor, aparentemente, começa a ser construído através da experimentação de novas sonoridades sintéticas. Do dulçor ao levemente ácido, a presente composição faz com que o ouvinte sinta, mesmo que brevemente, um agradável senso de conforto e aconchego na forma de um som de natureza embrionariamente transcendental. Ainda assim, o enredo percussivo que se coloca em cena pouco depois confere à atmosfera um caráter preciso e sensual que auxilia não somente na aquisição de um caráter esteticamente sensual, mas, principalmente, dá embasamento para que o sintetizador alcance novos patamares em sua atividade que visa hipnotizar e difundir o senso de torpor. Apophenia, portanto, se arregimenta como uma obra que transpira um frescor sintético enquanto mistura em sua receita pitadas equilibradas de synth-pop e new wave.
Ainda que os sonares uivantes deem ao cenário um caráter curiosamente fantasmagórico, a maneira como o beat se pronuncia não deixa que o ouvinte se sinta amedrontado ou intimidado. Afinal, por meio de sua cadência, existe um bom senso de fluidez que transpira uma espécie de sensualidade bastante contagiante e atraente. Sincopada e ausente de crueza, essa levada recebe simultaneamente o apoio do baixo, que se pronuncia na base melódica oferecendo ligeiras notas de corpulência à sonoridade. Assim, tais elementos fazem com que Late Nights se configure como uma obra festiva, contagiante e atraente mesmo sob um refrão minimamente sombrio.
Dizer apenas que o álbum é marcado por uma natureza experimental e sintética parece até mesmo pobre. Afinal, em meio à sua track list de 15 faixas, Supersonic, como o próprio título sugere, leva o ouvinte para uma perfeita viagem sônica. Um trajeto em que a audiência entra em contato com um mundo sintético que prova desde sua versatilidade à sua sensibilidade.
Fazendo com que o espectador vivencia sensações que vão do torpor, passam pelo conforto, atingem generosos graus de insegurança e tensão e cheguem a até mesmo interagir com o sombrio e o fantasmagórico, o álbum é marcado por uma natureza expansiva e ausente de qualquer sinal de timidez. Amplo em texturas, as quais permitem a percepção palpavo-tátil que vai do dulçor à maciez, passando até mesmo por ligeiras menções de rigidez, o álbum, portanto, se destaca pela profundidade de suas camadas.
A partir daí, não é difícil de se perceber que suas quatro primeiras faixas mereçam maior destaque. Isso acontece porque, de maneira geral, elas trazem consigo toda essa versatilidade estético-sensorial de Supersonic. Do torpor ao sensual e do doce ao ácido, elas funcionam como um bom conjunto de abre-alas para uma experiência de intensa quebra de paradigmas. Uma vivência sonoro-sensorial que, definitivamente, mudará a percepção do ouvinte no que tange experimentalismo e extroversão.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/3Y2UzZ6Uelgt7zmIuWlZ6R
Site Oficial: https://www.mortalprophets.com/
Soundcloud: https://soundcloud.com/mortalprophets
YouTube: https://www.youtube.com/channel/UC6iKjSyTp0VVbAYRz6bgVZA
Instagram: https://www.instagram.com/mortalprophets/
Twitter: https://x.com/MortalProphets
Facebook: https://www.facebook.com/MortalProphets/
