Sempre é bom lembrarmos… Suscita pretensiosidade listas como essa, não acham? Deixamos claro: os VINTE E CINCO melhores álbuns internacionais para a ROADIE MUSIC mediante o olhar particular deste que vos escreve. Pronto! Ah, e comentários são bem vindos em nossas redes sociais, já que COM CERTEZA algum poderá faltar na seleção particular de alguém.
Esse ano tivemos um aumento ABSURDO de lançamentos em virtude da pandemia, muitos desses artistas que constam na relação, nós tivemos a honra em divulgar o lançamento. Observação: a ordem disponibilizada não é por juízo de valor, mas sim, aleatória. Então vamos lá!
H.E.R – “Back of My Mind”
Recebeu por muitos a alcunha de “Prince de saias”… Exagero? A multi-instrumentista ao vencer o Oscar esse ano na categoria de “Melhor Canção Original”, com a espetacular canção “Fight For You” (também ganhou o Grammy em 2021 por “I Can’t Breathe”), do filme “Judas e o Messias Negro”, tocou bateria na introdução do número, para em sequência cantar e dançar subliminarmente (nos shows transita por vários instrumentos), além de sempre ter demonstrado um talento raríssimo para composições.
E “Back of My Mind”, mostra um repertório magistral de 21 músicas, onde transita pelas raízes da soul music, mas simultaneamente dialoga com a contemporaneidade, principalmente com incidências precisas de hip-hop, carregado de um instrumental dos mais azeitados, além da personalidade emocional que destila em sua voz. “Having Everything Revealed” (o significado da sigla H.E.R), com seus indefectíveis óculos escuros, é um dos maiores talentos surgidos na música mundial nos últimos tempos!
Hiatus Kayote – “Mood Valiant”
Os australianos são a revelação mais incensada brotada dentro do cenário mundial da cena neo-jazz-soul. A banda espetacular conduzida pela voz, guitarra e carisma primorosos de Naomi “Nai Palm” Saalfield (que também administra uma bela carreira solo), arrebata com seu terceiro álbum, “Mood Valiant”, trazendo a tira-colo referências mais profundas de funk e psicodelia, inclusive contando com a participação do “brasuka” Arthur Verocai, na sensacional “Get Sun”.
O bardo rebuscado musicalmente, além da riqueza sonora desprendida, investe pesado no caráter visual como divulgação do novo trabalho, como os clipes “And We Go Gentle”, “Chivalry Is Not Dead” e “Red Room”, repletos de lisergia e cores. Somados a produção INCRÍVEL dos shows, trazem um grande passo a frente de um projeto que já resultava fantástico! Ainda ouviremos muito falar da instituição avassaladora surgida em Melbourne…
DMX – “Exodus 1:7”
A comoção mediante a partida prematura de um dos maiores nomes do rap com apenas 50 anos, em virtude de uma overdose, depois de longa batalha contra a dependência química, acentuou-se com o lançamento do incrível álbum póstumo “Exodus 1:7”. A ausência fatalmente foi ainda mais sentida com um trabalho tão primoroso.
O estilo agressivo e pesado de DMX, contou com uma verdadeira constelação que fez questão de participar da homenagem, como Jay-Z, Naz, Alicia Keyz, Snoop Dog, Bono Vox, Kanye West, entre muitos outros… Uma grande celebração, que endossa a carreira de um artista que deixou várias páginas escritas na história do gênero que contribuiu para popularizar. Experimente não se emocionar com a surpresa ao final de “Exodus 1:7”. RIP!
Iron Maiden – “Senjutsu”
Uma das maiores reclamações dos fãs de longa data da “Donzela de Ferro”, é que os registros lançados de “Brave New World” (2000) em diante, passavam distante da excelência dos clássicos da lenda, que é um dos maiores nomes do heavy-metal mundial. Por mais que os discos recentes tenham atingido as novas gerações e os shows com estádios lotados em turnês mundiais ainda são um espetáculo imprescindível, faltava aquele álbum que agradasse o maior número possível de gregos e troianos desta verdadeira “religião”.
E “Senjutsu”, alternando em sua maior parte músicas longas que dialogam com a sonoridade progressiva, em comunhão com petardos certeiros e urgentes que relembram os áureos tempos, como “Stratego” e “Days of Future”, foi o disco melhor recebido por público e crítica nos últimos tempos. Os maneirismos que não podem faltar ao arquétipo sonoro da banda estão todos lá, mas diluídos em uma ousadia inspirada, que fazia bastante tempo não dar as caras, como atestava grande parte dos fanáticos admiradores. E Bruce Dickinson, como sempre um capítulo a parte com seus vocais primorosos! Vida longa ao Iron Maiden!
Robert Plant & Alison Krauss – “Raise the Roof”
Temos aqui uma das parcerias mais bem sucedidas da música mundial! As lendas supremas (cada uma em seu segmento), 14 anos depois retomam a parceria arrebatadora de “Raising Sand” (2007, vencedor do Grammy), para um novo momento sublime em “Raise the Roof”. Impressionante como as vozes se conectam em química das mais extraordinárias, e o repertório segue a excelência promulgada com primor!
Transitando por folk, country (inclusive gravaram novamente em Nashville!) e bluegrass dos mais sedutores (remete a alguns momentos acústicos do Led Zeppelin), em instrumentações acústicas e climáticas ao extremo, destilam versões preciosas de canções dos The Everly Brothers, Merle Haggard, entre outros. Vale destacar a inédita autoral “High and Lonesome”, parceria de Plant com o produtor T Bone Burnett. Nasce com ares clássicos!
Steven Wilson – “The Future Bites”
O artista multi-instrumentista Steve Wilson, que trouxe novo frescor para o rock progressivo com incisões alternativas através da banda Porcupine Tree e em seus trabalhos solo, resolve dar um passo a frente mediante sua genialidade, abraçando fervorosamente a cerebralidade eletrônica que resplandece a música pop com cores das mais vívidas, repleta de ecos oitentistas como sinth-pop e pós-punk.
Em seu sexto álbum autoral, traz como inspiração temas que compactuam com as idiossincracias atuais do panorama mundial contemporâneo: alienação política (“Man of the People”), narcisismo somado a individualismo exacerbado (“Self”), consumismo desenfreado (“Personal Shopper”) e metáforas incríveis, como em “Eminent Sleaze”, que aborda um personagem que muda de pele de acordo com as circunstâncias (como um réptil!). Steve Wilson sempre tem algo fundamental e impactante a apresentar quando surge produzindo…
Smith/Kotzen – “Smith/Kotzen”
A parceria entre o guitarrista do Iron Maiden, Adrian Smith, e o artista-solo e componente do The Winery Dogs (também ex Poison e Mr. Big), Richie Kotzen, rendeu um grande álbum de blues-rock modernoso, com incisões de rhythm and blues e funk setentista, além de uma onipresença hard rock das mais vibrantes! A química gera uma dinâmica furtiva ao extremo nas composições, todas inspiradíssimas, e principalmente com a alternância vocal entre os dois músicos.
É sabido que Kotzen destila uma bela voz (repleta de feeling) em seus trabalhos solo, mas a performance de Adrian, realmente nos impressiona bastante, mesmo para quem teve acesso a seus registros individuais. E pensar que o projeto surgiu pelo fato de serem vizinhos! Há apenas duas participações: os bateristas Nicko McBrain (Iron Maiden) em “Solar Fire”; e Tal Bergman, parceiro de Richie, nas faixas “You Don’t Know Me”, “I Wanna Stay” e “Til Tomorrow”. Kotzen assume as baquetas nas outras cinco músicas. DISCAÇO!
Duran Duran – “Future Past”
Um dos maiores expoentes dos anos 80, advindos do movimento denominado “new romantic” no início da década, mostram uma incrível capacidade de provar que ainda tem muita lenha para queimar… O Duran Duran sempre conseguiu a capacidade de manter sua forte identidade intacta, por mais que houvessem flertes com prognósticos mais atuais. A música dançante repleta de sintetizadores, o aspecto glamoroso que nos remete ao universo da moda, baladas antológicas e o instrumental sempre afiado!
Como o próprio título “Future Past” acena, o bardo inglês mantém suas tradições, mas passa distante do receio em inovar. E o acerto é primoroso, simplesmente um dos melhores álbuns da banda em bastante tempo! TODAS as músicas são prováveis hits em potencial, impressionante o material apresentado. Repleto de participações das mais furtivas, soa mais contemporâneo que muitos artistas apresentados como “novidade”. ESSENCIAL!
Adele – “30”
Que Adele é uma grande artista, todos ao redor do planeta concordam. Mas o grande ápice em termos de amadurecimento musical, se dá com o primoroso “30”, que recebeu uma reverberação imediata de público e crítica especializada, tamanho o clamor instaurado. E merecidíssimo! O intimismo da verve poética, basicamente um diário da separação conjugal da cantora, carrega uma sofreguidão emocional repleta de lirismo dos mais comoventes!
A estrutura épica instaurada, carrega uma obra imprescindível referente a solidão, permeando sobre uma retomada de Adele mediante perspectiva diferenciada para o protagonismo enquanto mãe, mulher e artista. Em seu quarto álbum de estúdio, até a incensada voz se mostra ainda mais vigorosa nas alternâncias das linhas propostas, transitando por estilos e fórmulas pouco usuais, proporcionando ainda maior dinamismo e força ao trabalho. “30”!!!
Silk Sonic – “An Evening With Silk”
A parceria resplandecente entre Bruno Mars e Anderson .Paak, já mostrava o estrago que seria causado no projeto Silk Sonic, mediante a divulgação dos singles que foram lançados anteriormente. O clima de devoção a música black setentista, basicamente uma declaração de amor aos áureos tempos da gravadora Motown, trouxeram resultado dos mais lindamente tocantes da história!
Dois pop-star consagrados querendo prestar reverencia a suas maiores influências musicais, com toda a musicalidade em camadas explosivas de paixão desbragada pelos gêneros que lhe são cabidas, só poderia resultar em obra-prima de altíssima grandeza. Era o disco que Michael Jackson poderia ter feito antes de sua partida… As incisões precisas de rap nos grooves avassaladores desprendidos, mostram um diálogo dos mais furtivos com a contemporaneidade. Produção da lenda funk, Bootsy Collins, petardo que já nasceu CLÁSSICO!
Billie Elish – “Happier Than Ever”
Maldição do segundo disco? Passou distante aqui… Difícil ter um álbum de estreia com tanto impacto e repercussão, ainda mais sendo uma adolescente apenas. Foi a artista mais jovem a vencer as quatro categorias principais do Grammy Awards e despontou como o maior símbolo da mudança de paradigma no universo da música pop que adentrava uma nova década REVOLUCIONANDO.
Pois bem, acompanhada do fiel escudeiro, irmão e produtor, Finneas, a melancolia repleta de camadas atmosféricas, experimentalismos diversos, incisões etéreas e até hip-hop + trap, vem mais amadurecida, como um processo continuísta que acompanha a fase de vida transitória da sua interlocutora. O que parecia impossível, aconteceu: Billie Elish nos entregou um registro AINDA MELHOR do que o seu anterior. “Happier Than Ever” trabalha as questões referentes ao início da fase adulta, atrelada a fama e seus demônios, dotado de instrumental simplesmente SOBERBO. Fenômeno POP que tem tudo para agradar simultaneamente a pais e filhos, esse é o resultado!
Joe Bonamassa – “Time Clocks”
Em seu décimo-quinto disco solo, o guitarrista Joe Bonamassa é basicamente um padrão de referência quando pensamos no blues em simbiose com influências das mais díspares, como rock progressivo, passagens jazzisticas, country, southern e hard rock. Seus registros são sempre dotados de usual extrema qualidade, que acabamos não esperando nada além. Será ótimo e pronto, é o ecoar em nosso subconsciente!
Pois os caminhos percorridos em “Time Clocks” surpreendem, soando mais densos e sofisticados para implementar uma narrativa incrível (não conceitual) que discorre sobre a passagem do tempo. Tanto que o formato básico inicial de praxe (guitarra, baixo e bateria) foi acrescido por uma constelação sonora de músicos convidados, arregimentando piano, percussão, didgeridoo e corais dos mais diversos. O resultado é simplesmente SENSACIONAL, com a guitarra chegando as raias do divino! Nos atrevemos a apostar que estará em TODAS as listas de melhores do ano!
St. Vincent – “Daddy’s Home”
Um dos maiores nomes do electropop surgido nos últimos tempos, St. Vincent mantém na inquietação conceitual a sua principal característica em se tratando de lançamentos. O diálogo entre texturas oitentistas hipnóticas e espasmos de extrema sensualidade (com a guitarra exercendo um papel proeminente!) ainda estão aqui, mas mediante proporções dançantes mais setentistas, como R&B, soul, funk e psicodelia.
O nome do álbum vem em conotação a seu pai, que foi preso pela participação em um esquema de manipulação de ações resultante em US$ 43 milhões, no ano de 2010. A temática da condição humana e seus julgamentos permeia por todo o espectro poético da obra. Como muda a identidade dentro de cada registro, o personagem da vez é uma cantora dos anos 70 que vaga por Nova York com vodka barata, perfume caro e cigarro em mãos. O visual foi inspirado em Candy Darling, atriz e mulher trans americana, que recebeu a faixa de encerramento com seu nome em homenagem. “Daddy’s Home” é INCRÍVEL!
Christer Fredriksen – “Mauve”
O jazz é um gênero que sempre suscitou um respiro renovatório incrível em seu cenário. Esse é o caso do excepcional álbum “Mauve”, de Christer Fredriksen. A subversão do estilo fusion para um olhar absolutamente particular e contemporâneo, impressiona mediante cada faixa degustada. A estrutura ambient serve como grande arremedo para todas as incisões que vão sinergeticamente brotando em um nível de profundidade absurdo. Seu trabalho consiste na sutileza e destila introspecção, mas passa distante do que entendemos como cool jazz. O nível de contemporaneidade que une elementos sonoros de influências díspares, com vinhetas de rara criatividade, impressiona e MUITO!
O tom de absoluta viagem sensorial nessa jornada instrumental, pode contribuir para fazermos uma conexão com áureos momentos do rock progressivo (“The Organizer” que o diga!), principalmente aquelas longas suítes de estrutura conceitual. Também nos remete a trilha-sonora dos grandes clássicos da ficção-científica (“Horseman” é um grande exemplo desse sentimento). A quantidade de efeitos e possibilidades que surgem gradativamente e desprovidas de pressa na execução, é um exercício sublime de deguste, já que nada é descartável nessa experiência. Belíssimas melodias são destiladas aos “borbotões”! O norueguês se coloca na galeria dos clássicos do jazz e da música instrumental.
Mastodon – “Hushed and Grim”
A banda de Atlanta, Mastodon, é um dos nomes de maior crescimento dentro da cena metal desde a última década . Além do show avassalador que impacta nos palcos e os trouxe para o primeiro time do segmento, vale frisar que a sonoridade transcende os cânones conservadores que admiradores desse gênero em sua maioria tanto costumam se orgulhar. E com “Hushed and Grim”, o processo de expansão musical se impõe ainda mais!
O novo petardo incorre em peculiaridades alternativas, camadas atmosféricas, incisões progressivas e psicodelia incisiva, proporcionando um combo riquíssimo musicalmente de melancolia das mais pesadas. O primeiro registro duplo na trajetória do grupo, tem total inspiração em um luto recente, trazendo reflexões sobre o falecimento de Nick John, empresário e amigo de loga data. O heavy-metal tem muito a crescer com a progressão mercadológica do Mastodon! É um SONHO para qualquer músico desse estilo poder ousar e transgredir nas composições, sem precisar correr o risco de cancelamento dos fãs…
Morrison Reed – “Spirit Haus”
Temos aqui uma das viagens mais “insanamente” irrepreensíveis em termos de diversidade musical mediante um álbum, nesse 2021! “Spirit Haus” é um aprofundamento incisivo da terminologia “liquidificador sonoro”. Impressionante o experimento de rock’n’roll, psicodelia, eletrônica, vocalizações rap, surf-music e incerções experimentais, em um conjunto avassalador de dez canções (incluindo a bonus track).
O australiano Morrison Reed comete uma verdadeira obra-prima neste trabalho, mesmo que saibamos existir a premissa conceitual, impressiona como as músicas se interligam musicalmente, e funcionam divinamente como faixas individuais de forma simultânea. O tom declamado “sobrevoando” climas espaciais e etéreos, que colidem com guitarras enfurecidas, é simplesmente sensacional! Disco para ser colocado na cabeceira!
Ashe – “Ashlyn”
Mais uma artista pop que nos permite sonhar por tempos mais criativos dentro do cenário mainstream musical. Dialogando entre sonoridades contemporâneas e nostalgia da mais deliciosa dos anos 50 (principalmente!), nos proporciona um disco que exala “classitude” em seu poderio! Intimista e corajoso na abordagem confessional da cantora (quase uma sessão de terapia) em fins puramente poéticos, transitando por questões referentes ao TEMPO (fruto do processo pandemico), também carrega na ousadia ao interligar diretamente faixas tão díspares musicalmente.
Definitivamente MEDO é uma palavra que não compõe o dicionário de Ashe. Desde a introdução épica que exala sofreguidão emocional em parceria com FINNEAS, “Till Forever Falls Apart”, até a pérola com status de hino supremo e hit instantâneo, “Me Without You” (ambas com clipes sensacionais!), e a dilacerante “Save Myself”, o álbum é um primor só! Vale destacar a identidade visual da cantora, sempre de ternos cortados dos mais inventivos e descalça, outro fator de solidez artística. ASHE!!!
David Nyro – “Owl See You…on The Other Slide”
Artista que atua em várias frentes (domina violão, piano, gaita e banjo) e com larga experiência profissional, David Nyro basicamente entregou a sua alma, tendo que abrir mão de várias coisas (inclusive casamento!) para o foco imersivo que resultou em “Owl See You…on The Other Slide”, um belíssimo e multifacetado conjunto de onze canções. E conseguiu com louvor!
Muitos hinos foram concebidos nesse processo, como “Bitter Wine” (com parceria e vocais soberbos de Katie Kuffel), que bebe na fonte bluezera de Carole King, uma canção emotiva e fantástica em sua condução. A irresistível voltagem “disco-pop” de “Never Saw A Woman”, de grande incidência R&B e sinths irresistíveis; o country-rock melódico de “Flying out over the Ocean” (parceria com Tiana Pye); a abertura imersa em camadas atmosféricas com a hipnótica “Waiting for My Life”, repleta de ecos oitentistas, onde destila sua imponente voz; a encore repleta de sofreguidão “trovadora”, “Stand”… MAGISTRAL como um todo!
Moon Walker – “Truth to Power”
O Moon Walker é a entidade rock’n’roll mais interessante surgida nos últimos tempos, com sua simbiose incrível de funk, glam e psicodelia. PONTO! Não há o que se discutir com relação a isso… O avassalador álbum “Truth to Power” rendeu uma sucessão de singles/vídeos dos mais impactantes ao longo do ano. “The TV Made Me Do It” é amplamente calcada na black music de ares lisérgicos do início dos anos setenta, que traz novidades sonoras de forma subsequente ao longo da faixa. O que falar do impacto no refrão? Sua pegada “garagera” (remetendo a grande cena de Detroit) é simplesmente incrível, e fica “ecoando” por nossa corrente sensorial.
“Light Burns Out” é tocante, coloca “guitarras no estande” e a “agressividade em seu bolso traseiro”, optando por pianos, mellotrons e lirismo introspectivo, neste petardo politicamente carregado. “Tear Down The Wall” é uma música densa, mas que não deixa de trafegar por todos os elementos que o duo de Los Angeles, formado por Sean McCarthy na bateria e Harry Springer na guitarra, voz e produção, destilam preciosamente há cerca de dez anos. As músicas citadas geraram clipes fantásticos, mas o disco de cabo a rabo é incrível! PRIMOROSO!
Danny Guinan – “Now Is The Time”
Temos aqui um dos trabalhos mais inspirados e motivantes por momentos melhores, seja na música especificamente ou se estendendo para um caráter humanitário como um todo, através de oito canções inspiradíssimas, daquelas que já nascem com status de hino, e nos dão a sensação imediata que estamos ouvindo uma coletânea. A adesão sensorial ao álbum “Now Is The Time” é requisito fundamental na relação com o ouvinte, pois o resultado final é realmente sensacional!
O cantor e compositor irlandês Danny Guinan, contribui altivamente como a trilha sonora ideal para uma comunidade mundial que sobrevive arduamente a crise pandemica. Um petardo de proporções épicas, em arranjo de cordas dos mais vívidos mediante o folk-pop destilado em todo o disco, como “Regards”, é um grande libelo de motivação para novos tempos de esperança e beleza ao redor. Aliás, a verve poética trazida ao registro é um capítulo a parte, simplesmente irretocável! LINDO!
Amazonica – “Songs From The Edge”
A artista londrina tem toda uma carreira consolidada como DJ, sendo das mais requisitadas entre festas de celebridades (after parties do Oscar, Festival de Cannes e Globo de Ouro, por exemplo). A guitarra sempre lhe acompanhou, inclusive nas produções dentro da seara eletrônica. Resolvendo explorar o conceito de “rock-star” através dos tempos, atacou com um dos grandes discos de rock’n’roll do ano, soando incisivo, pesado e visceral: “Songs From The Edge”.
Riffs inspiradíssimos que destilam garage-rock dos mais vigorosos, vocais incríveis que remetem ao movimento riot grrrl dos anos 90 (L7, Hole, Babes in Toyland), refrões de alta incidência pop (maravilhosamente grudentos, concisos e inspirados) e generosas doses de alternative-rock, grunge e pop-punk, temos uma verdadeira viagem sonora pelo universo roqueiro. Sabe aquele registro festeiro e cheio de virulência dançante, que dá cabo de uma festa sozinho? Pois é… Que Amazonica continue sua incursão matadora pelo rock, precisamos!
Blair Jollands – “Holograms”
Nos quatro registros anteriores, o britânico cada vez demonstrava uma maturidade musical das mais precisas, dentro da sonoridade alternativa que carrega tons épicos, e trafega por influências das mais díspares. E a espera valeu MUITO a pena, “Holograms”, de Blair Jollands é SENSACIONAL! O tom “reflexivo-atmosférico” grandiloquente da faixa “Atoms” emociona, e nos remete a uma lenda que chegou a elogia-lo em vida: o camaleão David Bowie!
Boy George foi mais um grande nome que declamou seu talento (NME, Guardian Uncut e Artrocker, também alardearam), tendo lançado o material pelo selo do artista, More Protein. A pegada garagera de “Dream of You” remete a grandes momentos de Nick Cave, mas com extrema personalidade, assim como percebemos ecos do grande Rufus Wainwright, e da fase setentista do mestre Elton John. As paisagens cinematográficas, o cuidado primoroso com as melodias, clima poeticamente carregado de uma doce melancolia, e o vocal imponente, fazem deste trabalho um dos momentos antológicos desse ano!
Rae Radick – “Rae Radick”
Transitando com absurda maestria por gêneros díspares como rock’n’roll, country e pop, o auto-intitulado álbum de estreia de Rae Radick impressiona pela maturidade musical. Temos um conjunto de canções tão coeso, que durante a audição nos recusamos a acreditar se tratar de um debut. Está entre os grandes lançamentos não apenas do ano, mas de todos os tempos nesta seara proposta!
O petardo roqueiro “Keep ‘em Guessing”; o arremate pela soul-music em “In a Memory”, repleto de texturas bem mais envolventes e sedutoras, onde destila toda a potência de sua soberba voz, aliando técnica apurada com profunda sofreguidão emocional; o inspiradíssimo pop-rock de “Sorry’s Not Good Enough”; passeando em “Circle Game” com seu clima sensorial rebuscado e envolvente; a magistral baladaça country, “The Soldier and the Bombshell”… Perfeito início para essa artista que está na estrada desde os 16 anos vivendo da sua música. “Rae Radick” é NECESSÁRIO para todo amante de música feita com alma, musicalidade nas alturas e diversidade!
Moonspell – “Hermitage”
Os lusitanos do Moonspell conseguiram papel de destaque na cena metálica mundial com um gothic-doom-metal dos mais azeitados. A guinada conceitual que eles vem redigindo ultimamente, é uma das mais corajosas desse segmento e o mais incrível: tem sido seus melhores trabalhos em todos esse quase 30 anos de trajetória! Depois do magistral conceitual “1755”, tendo letras cantadas completamente em português pela primeira vez em texturas épicas, os portugueses nos surpreendem mais uma vez…
A incursão pelo rock progressivo traz mais uma obra-prima do grupo! Não estamos falando de prog-metal, mas sim um mergulho pela sonoridade das grandes lendas do gênero nos anos 70, principalmente o Pink Floyd. O flerte com o metal aparece em alguns vocais guturais e em não abandonar as guitarras pesadas de praxe (remetendo ao doom). Mas no geral trata-se de uma viagem sonora das mais irrepreensíveis (muitas passagens orquestrais e de piano), e rememora a sintonia épica do trabalho anterior, formando uma sutil “ponte”. INCRÍVEL!
Pietro Borradori – “Dual”
Um álbum desafiador em sua proposta, que alia sonoridade ambient a elementos de música erudita. O resultado é fenomenal! O italiano Pietro Borradori com “Dual”, nos proporciona uma experiência sensorial das mais incríveis, trazendo um vanguardismo único que permeia entre o diálogo direto entre a música clássica e a experimental. O minimalismo acentuado que transita com a combinação de sons de cordas acústicas com algumas técnicas estendidas de piano, proporciona uma “abdução sinergética” imediato ao ouvinte.
Impressionante como somos levados diretamente para as imagens e sensações proporcionadas, e podemos ter as perspectivas das mais díspares no campo visual! A estadia em uma trilha-sonora futurista, arremedo new-age devocional, suíte desencantada de sinfonia, estruturas meditativas… Impressiona nessa concepção artística e conceitual, O DETALHE em prol da canção, que é o grande fomento para o trabalho soar tão original e genial. Vale frisar que Pietro Borradori concebeu solitariamente todas as partes de piano, enquanto os violoncelistas solo do Teatro Alla Scala, adicionaram o “duelo” de cordas. Magistral!
Poderiam ter estado aqui facilmente: o hip-hop exalando representatividade de Doja Cat (“Planet Her”) e Lil Nas X (estreia impactante com “Monteiro”); o debut avassalador de Olivia Rodrigo, “Sour”; o metal modernoso do Gojira (“Fortitude”); a viagem atmosférica de Lana Del Rey em “Chemtrails over the Country Club”, e muitos, mas MUITOS artistas fantásticos que não lançaram álbum, mas despejaram seu talento em singles e EPs!
Por Alessandro Iglesias