Um diálogo cru, sem emoção e, portanto, frio, serve como elemento introdutório da obra. Ainda que a impressão de frieza de fato sobrevoe pela atmosfera, a verdade é que tal troca de palavras, feita notadamente por telefone, destaca um percalço vivenciado por uma das partes dessa conversa.
Enquanto tal diálogo tem continuidade, uma sonoridade madura acaba abraçando as duas vozes que moldam o escopo lírico. Regida por um baixo de groove bojudo e levemente saliente, ao lado de uma levada percussiva fluida e amaciada, a canção acaba escorregando para uma estrutura, de fato, aveludada que foge da crueza estrutural inicial.
Agraciada pela presença do teclado e do xilofone dando à sonoridade novas e excêntricas texturas, a canção entra em um refrão contagiante que realça o timbre grave de Pere Canal ao passo que dá ainda mais visibilidade ao seu idioma espanhol.
Se configurando como uma obra charmosa no que tange sua paisagem estético-estrutural, Las Personas Normales chama a atenção pelo seu lirismo de cunho curiosamente educacional. Afinal, aqui Canal ensina seus ouvintes não apenas a diferenciar machismo de feminismo, mas indica que o que se busca, em um contexto geral, é simplesmente igualdade de direitos e respeito. Uma obra feita sob medida para desmantelar um mundo regido pelo autoritarismo e pelo excesso de valor conservadorista.
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