A maneira com que o piano puxa a introdução da canção é de uma ternura tão latente que chega a emocionar até mesmo os corações mais rígidos. Levemente adocicada, mas com uma postura cheia de compaixão e cuidado, é interessante perceber como a obra, imersa em meio ao seu caráter frágil, acaba proporcionando um viés curiosamente lúdico de maneira a despertar, no ouvinte uma pureza imatura que rememora os tempos de infância. Com tal espectro, a faixa-título se mostra uma boa forma de abrir o álbum: com total maciez e delicadeza, mas acoplada em uma fluidez agradavelmente doce e macia.
O grau de açúcar que se tem durante os primeiros sonares imediatos da canção é denso em virtude das notas adotadas pelo piano durante a sua construção. Mantendo uma serenidade latente e consistente, a canção, surpreendentemente, traz consigo um senso de alegria contagiante, mas de origem um tanto enigmática. É como se um bem-estar grandioso surgisse dos confins emocionais e abraçasse o ouvinte com tanta efervescência que a vontade de viver se torna intensa e, inclusive, ardente. Ainda que mantendo certo grau de linearidade em seu enredo sonoro, o piano permite que The Brightness Of The Morning acabe oferecendo um resquício de dramaturgia perante uma paisagem sensorial bela e extasiante que traz consigo as primeiras menções de luz natural trazendo o amanhecer. A canção funciona, portanto, como uma espécie de despertar para a vida de uma forma serena, mas incontestavelmente motivadora.
É complexo abordar um álbum tão amplo e ainda se tratando de um conteúdo repleto de bem trabalhadas faixas instrumentais. Indo da delicadeza ao dulçor. Do torpor ao drama e fornecendo requintes de sensualidade, além de interessantes pitadas de ludicidade, Reflections é um produto em que o piano, através da sensibilidade de Robert McGinty, é, sem dúvida, seu protagonista. Um personagem que, em muitos momentos, assume a função de guia melódico, harmônico e, inclusive, rítmico.
Apesar de suas duas primeiras canções chamarem mais atenção por trazerem tais qualidades de maneira mais transparente, o experimentalismo que marca o álbum faz com que outras canções mereçam a devida atenção. Desde a balada romântica Ballade À L’Amour; passando pela folclórico-erudita Ebbing Tides, com sua promoção sintônica entre flauta e violino; e chegando em Encantada, com sua valsa swingada construída com auxílio de um violão de sangue latino, o material se define, de fato por uma gama de camadas que permite uma viagem sensorial robusta.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/1EOF1x3GVVerPSGI8XSH2W