Desde seu início imediato, a canção leva o ouvinte para outro tipo, ou melhor, outro nível de experiência sensorial. Da delicadeza que transpira dos poros de cada nota proferida, o piano, através de seu dulçor frágil, acaba, de fato, evidenciando a sua própria natureza vulnerável. Tal evidência acaba auxiliando no processo de a canção ir assumindo, pouco a pouco, uma natureza humana por meio de suas emoções externadas.
O interessante, nesse ínterim, é perceber a existência de uma espécie de conforto que soa, curiosamente, ludibriante. Afinal, quanto mais se desenvolve, mais a composição vai mostrando que, nos entremeios de cada som, uma melancolia pode ser identificada com notável facilidade. Funcionando como um sinal evidente de uma ferida mal cicatrizada, essa tristeza faz com que cada imagem reproduzida no inconsciente por meio do acesso a lembranças acalentadoras tenha efeitos físicos semelhantes ao de uma faca cortando a superfície da pele.
Ainda assim, é até bonito de perceber que, pelo movimento sonoro-narrativo da composição, o ouvinte é convidado a se embriagar por lapsos de esperança que fazem com que as lágrimas cessem por um curto período. A partir daí, é como se a lucidez voltasse a imperar e o amor retomasse o seu papel regente da vida. Através desse arranjo minimalista e unilateral, Robert McGinty mostra, em Return To Lullaby Mountain, o máximo de sua sensibilidade artística.
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