As lágrimas escorrem dos olhos sem uma razão aparente. Parecem ser formadas e difundidas através de um intenso e profundo senso de gratidão e bem-estar. Com o Sol de calor morno banhando o rosto em um agradável entardecer de outono, existe uma sensação de aconchego e conforto que consegue transcender os acordes doces e frescos do violão em seu protagonismo educadamente gentil. Minimalista, bela e adoravelmente acústica, a canção chama a atenção do ouvinte pela sua capacidade de promover sensações reais de aromas e texturas que, ao fechar dos olhos, são possíveis de sentir desde a partir da ponta dos dedos, como da língua. Desde o sabor e o perfume de um café recém-passado à textura do veludo do cobertor, Daybreak é estruturada por meio da perfeita simetria entre o violão e o timbre charmosamente rouco de Kelsey Lee. Crescendo por entre esvoaçantes melodias, Daybreak encaminha o ouvinte ao seu encerramento por meio de uma grandiosa harmonia possibilitada através de um coro de vozes cristalinas que liberta a melodia para finalizar a canção na estrutura de um perfeito looping narrativo. Afinal, ela se fecha da mesma forma como se iniciou.
Mantendo o frescor, mas com notas mais contagiantes e até mesmo divertidas, o violão é, nesse novo cenário, acompanhado por um assobio que faz a função de qualquer outro elemento instrumental que possa cooperar com a melodia introdutória. De caráter radiofônico, Over The World ganha destaque ao, a partir do refrão, embriagar o ouvinte com um mergulho na seara do folk com a inclusão da contribuição do banjo com seu sonar típico de interior e do agudo estridente e despropositadamente sensual da gaita. Com um aroma bucólico estonteante, Over The World traz a história de uma garota que se apaixonou, se atraiu e foi fisgada pela arte de fazer música. De teor despropositadamente autobiográfico, a canção é sobre a força que a música e o som na forma de melodia exercem sobre uma pessoa.
Com uma introdução adorável e contagiante através do violão, Sailor’s Song traz um estilo de folk curiosamente associado àquele de Ed Sheeran. De melodia linear, mas não incômoda, a canção apresenta Kelsey explorando ainda mais seus melismas nessa vertente aromática nos moldes folks mantidos a partir de Over The World. Crescendo em harmonia com a entrada do lap steel entregando sua contribuição cuidadosamente sensual e o sonar de violinos inserindo uma confortável sensação de veludo, Sailor’s Song surge como a narrativa de um indivíduo buscando, desesperadamente, a aquisição do mais honesto senso de superação. É o sofrimento que remete a um passado que duela com a esperança de um futuro que guarda um novo amor.
Por ser gravado dentro do dormitório da Baltimore University, se esperava que soasse cru e até mesmo com uma mixagem capaz de ser melhor lapidada. Porém, o que Kelsey Lee mostrou com Rm. 222 foi uma musicalidade profunda e uma sabedoria em compor canções capazes de chegar aos corações do ouvinte.
Não apenas pela suavidade de sua voz, mas também pela mistura de elementos e a consciente consistência na criação de melodias minimalistas, o Rm. 222 se configura como um material contagiante, harmônico e belo. Seu charme maior é a mistura do acústico com um folk aromático de maneira surpreendente.
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