É curioso. Afinal, o sonar construído no instante imediato à introdução sugere requintes de insegurança e tensão ao mesmo tempo em que incita calafrios e sensos de medo. Conforme vai se desenvolvendo, essa sonoridade acaba assumindo silhuetas frescas que, curiosamente, colocam o ouvinte sob um estado introspectivo quase hipnótico, ainda que a atmosfera não tenha sido desenhada por completo.
A partir desse instante, a obra convida o ouvinte a, calmamente, mas ainda imerso em um senso de insegurança, caminhar pelos confins do seu próprio inconsciente. Ainda que, nesse processo, o espectador seja confrontado com realidades e constatações há muito escondidas, esse processo de autoconhecimento começa a ser algo inevitável.
Caminhando por entre a escuridão dos ambientes mentais trancados a sete chaves, em que o chão pegajoso e as paredes rochosas moldam sua atmosfera, o ouvinte acaba tendo que lidar com seus próprios demônios. A culpa e o remorso, apesar de soarem sinônimos, têm pesos diferentes quando recebidos por um indivíduo. E nessa trajetória da autopercepção, esses conceitos passam a cooperar com uma certa maturidade emocional do espectador.
Essencialmente instrumental, Ronroco’s Dream é onde Daniel Espada, por meio de uma sonoridade sintética que instiga diversas experiências sensoriais, convida o ouvinte a entrar em um processo meditativo frente ao universo de seu respectivo cenário do subconsciente. Lidar com memórias, sentimentos reprimidos e desejos escondidos pode despertar um senso de choque gritante naqueles que os observam. Por isso, é necessário um mínimo de equilíbrio emocional para compreendê-los e, até mesmo, perdoá-los.
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