A alucinação e o torpor, por mais que sejam sinônimos, eles permitem, já a partir dos primeiros sonares da faixa de abertura, uma experiência sensorial que mistura fantasia e realidade. Por meio de notas de um dulçor cuidadosamente sintético, o pulso ofertado pelo sonar seco do bumbo faz com que o espectador tenha lapsos de lucidez insuficientes para fazê-lo se desvencilhar do irresistível senso à dança desdenhado pela melodia. Explorando um caráter de cunho espacial e hipnótico, Black Sea se destaca pela sua experimentação de uma inédita estridência, algo que torna o ouvinte uma perfeita marionete à mercê das propostas emocionais que a obra se permite testar. Propostas essas que ficam um tanto mais sensuais ao passo que uma voz feminina é percebida em curtos diálogos perante um terreno rítmico maduro em seu viés techno.
Aqui, é interessante perceber como aquela mesma voz feminina consegue proporcionar ao ouvinte uma experiência sensorial completamente nova e, portanto, diferente daquela vivenciada na obra anterior. Flertando com a psicodelia em virtude de sua risada ecoante em meio a uma sonoridade ondulante, ela dá passagem para um chimbal seco que fica rasgando o torpor com sua textura ácida cuidadosamente pincelada durante a desenvoltura da obra. Felizmente, as frases pulsantes oferecidas pelo bumbo nos momentos que seguem fazem com que Discovery seja outra obra que consegue dosar lucidez com fantasia.
Entre um banho de acidez fornecido por uma sonoridade sintética e um beat pulsante em seu sabor curiosamente adocicado, a canção consegue, desde seu início imediato, fazer com que a dança tome um contorno não apenas hipnótico, mas embriagante e amaciado. É então que Shooting Star promove ao ouvinte o contato com uma atmosfera sonora diferenciada e, portanto, inédita até então. O sintetizador, ao preencher a base melódica, adota uma sonoridade encorpada que imita a contribuição do baixo, deixando a obra agraciada por um senso de groove quem, por mais que seja sintético, garante notas bem-vindas de sensualidade à obra. Não é de se espantar, portanto, que a dança proposta na composição seja garantida por uma movimentação mais aveludada e swingada.
Como o tiquetatear do ponteiro do relógio, o chimbal entra em cena como o principal elemento sonoro da introdução. Em meio a uma sonoridade crescente de caráter aveludado, Neptune se mostra uma canção de destaque por trazer frases percussivas bem marcadas por entre a sua linearidade quase espectral. Agora, é interessante perceber que o astro da obra surge apenas no momento em que ela atinge seu ápice sonoro-narrativo. Um toque agudo e não açucarado fica pipocando por toda a atmosfera promovendo um hipnotismo cada vez mais irresistível.
Techno Village é um material com ampla track list. São 12 obras no total. Obras essas que fazem o ouvinte se aventurar por um mundo de fantasia e alucinação que chama para a dança ao mesmo tempo em que instiga o torpor. Um material que é capaz de ser hipnótico, mas também sensual e cheio de menções de groove.
Apesar de dar um destaque especial às suas primeiras quatro canções por nelas estarem mais bem definidas essas constatações, o álbum também deposita em títulos como a sombria Hot Drops e a essencialmente pipocante Limitless merecida atenção. É assim que Techno Village se torna um material experimental e amplamente sensorial.
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