É interessante como a ideia de minimalismo pode soar, de vez em quando, negativa. E é mais interessante ainda encontrar músicos que saibam trabalhar esse quesito com bastante seriedade, mas sem perder a delicadeza. Logo na faixa de abertura, em seus primeiros instantes sonoros, a Softly Spoken prova ser um desses profissionais. Afinal, apenas com o violão, ela consegue trabalhar uma série de sensações que vai do êxtase do conforto até brisas gélidas de melancolia. Nesse aspecto, inclusive, o timbre e a forma como a cantora exorta sua voz trazem consigo desde o dulçor mais aconchegante ao torpor que esconde uma dor lancinante. Ainda que embebida em uma linearidade melódica sistêmica, Hey é uma canção romântica que traz a protagonista encontrando sua cara-metade em seus próprios sonhos.
Suavemente swingada e com agradáveis toques de frescor, a forma como o violão é manipulado causa, aqui, uma elevação na dose de ânimo. Sorridente por entre suas silhuetas curiosamente campestres, a presente canção recebe outro elemento que auxilia no seu embasamento estrutural. Igualmente delicado e com feições respeitosas, o baixo pede licença e entra em cena colocando, fragilmente, suas contribuições a ponto de deixar a sonoridade mais consistente sem que perca a brandura. Disseminando seu aroma floral por meio de um folk de toque primaveril parisiense, o perfume das flores encanta o ouvinte e o hipnotiza, conforme My Person exorta suas qualidades românticas penetrantes.
Por meio de um violão ondulante em uma cadência ligeiramente acelerada, a canção tem seu despertar. Rapidamente, a cantora se apropria do microfone e começa a inserir as linhas líricas sob uma atmosfera inebriantemente romântica. Imersa em uma linearidade melódica estrutural, Only One tem, na camada lírica, o principal chamariz que captura a atenção do ouvinte. Com seu timbre adocicado e suavemente rouco, a cantora deixa a canção charmosa conforme explora extensões vocais mais altas e a execução de melismas. Curiosamente, a maneira como a melodia se desenvolve no refrão faz com que Only One traga uma súbita familiaridade com aquela estrutura construída nos versos de ar de What’s Up, single de 4 Non Blondes.
É interessante e curioso. Ao mesmo tempo em que o violão vem em um riff swingado, existe, na melodia em construção, uma atmosfera de melancolia gradativa que vai se apossando calmamente do ouvinte. Ainda assim, a maneira como a dupla de violões se completa cria uma harmonia tão tocante em sua simplicidade que chega a fazer com que o espectador tenha arrepios involuntários. Com essa estrutura, Happysad traz, talvez, o enredo mais entristecido de Seasons Of Love. Ainda assim, ele traz um turning point narrativo quando a protagonista conhece aquela pessoa capaz não apenas de dar cores e alegria à vida, mas de ajudá-la a cicatrizar algumas feridas a ponto de fazê-la ver o Sol brilhar novamente no horizonte azulado.
A constatação já foi tida logo na primeira canção, mas conforme Seasons Of Love foi se desenvolvendo, ela apenas tomou mais forma e silhuetas concretas. Softly Spoken é uma artista que, definitivamente, sabe trabalhar com o pouco e fazer, desse minimalismo, grandiosismo. Construindo harmonias tocantes e melodias delicadas, a cantora não apenas capturou a atenção do ouvinte como conseguiu divulgar sua proposta estética.
Absorta em seu timbre adocicadamente rouco, Softly Spoken fez com que, a partir das quatro primeiras faixas de Seasons Of Love, o ouvinte entendesse sua proposta de trazer diálogos românticos sob melodias acústicas. É assim que a artista construiu uma espécie de folk pop entorpecente em sua sede de romance e bem-estar do coração.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/4kMCkLADzyKJEZVLCYA8uk
Site Oficial: https://softlyspokenmusic.com/
