Ela nasce doce, serena, delicada. É como um senso de aconchego inexplicável vindo junto dos primeiros raiares de Sol em um amanhecer primaveiresco. Do alto da colina, o mar canta ao vivenciar o encontro da luz do dia e sua energia de pura vida. O ímpeto de esperança brota do solo e uma sensação enigmática de satisfação e contentamento acalenta o coração de maneira profunda a tal ponto que deixa o corpo físico em estado de torpor, tamanha a plenitude sentida.
A forma como as notas do piano vão desenhando uma espécie de veludo convidativo, vai favorecendo a entrada de um vocal, cujo timbre vem agudo, com base potente, mas externamente delicado, comece a despejar aromas florais no ambiente já dominado pelo êxtase do bem-estar. Carolina de la Muela não vocifera, mas faz um deleite sentimental, sem dramaturgia, que captura o ouvinte em um aspecto que curiosamente leva o ouvinte a experienciar súbitos de perdão. Com a entrada valsante e lacrimal do violino de Jovana Krazic, Somewhere Beyond The Blue transcende a emoção, mas é quando Yann Marc insere seu violoncelo na receita melódica que as lágrimas não são mais sustentadas pelas barragens, transbordando em uma enxurrada descontrolada de sentimentalismo. E assim, Somewhere Beyond The Blue, uma canção sobre a superação do luto, representa todos aqueles que se encontram na experiência da dor da perda. Mais do que isso, a faixa é a sonorização, a trilha sonora, o som do último beijo, do último toque, do último suspiro. Uma canção de despedida que transcende a gratidão, mas que duela entre a tristeza e a satisfação de uma estrada percorrida na companhia daquele que, agora, está em algum lugar além do azul.
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