Não tem como não se perder perante a atmosfera delicada, fantástica, transcendental e etérea da canção de abertura. Afinal, a maneira com que ela propõe a sua introdução já faz com que o ouvinte se sinta com uma leveza indescritível. Uma suavidade que faz parecer como se todos os problemas do mundo sumissem em um súbito instante. Explorando a máxima vulnerabilidade por meio da combinação de sobreposições vocais esvoaçantes e vocálicas com uma guitarra de riff simples, mas de natureza ecoante e cuidadosamente azeda, Do You Want Me é marcada por uma narrativa construída por meio de um vocal feminino sussurrante que, por meio de Dorine Levy, desfila uma espécie de sensualidade despropositada. De harmonia minimalista, mas surpreendentemente grandiosa, a obra tem um caráter intimista denso que, de fato, é agraciado por um swing que é notado apenas como elemento sensitivo que permite a identificação de maciez e fluidez. Nada com conotação sexual. É apenas a brandura sendo explorada de outra forma.
Nesse novo ecossistema, a sonoridade vem mais elaborada, com mais elementos. Fugindo, portanto, de sua exploração post-rock muito bem salientada na obra anterior, a presente faixa se desenvolve por meio de uma melodia fluida exercida pela guitarra e seu riff cuidadosamente azedo. Mergulhando na temática sonora do rock alternativo com direito a notas ligeiramente soturnas, a obra é agraciada por um baixo de silhuetas bojudas, mas que é perceptível apenas em instantes pontuais, nos quais se faz audível por meio de rompantes encorpados. Delicada, gentil e, curiosamente, aveludada, a composição se torna marcante por algumas razões importantes. Primeiro, ela permite ao ouvinte uma melhor degustação do timbre de Dorine, que aqui se mostra grave e ligeiramente rouco. Segundo, Tough Love acaba se enveredando por uma temática lírica sobre o amor e o romance, mas, especificamente, sobre a força que uma pessoa exerce sobre a outra. Sobre a importância do cuidado como forma de auxiliar o outro a superar as suas próprias dificuldades.
É verdade que ela difunde uma sensibilidade um tanto melancólica por entre a maneira com que a guitarra se apresenta durante seus momentos iniciais. Azeda e ecoante, ela permite uma mais profunda percepção de uma energia intimista. Ainda assim, o que de fato chama a atenção da presente obra é que ela é agraciada por um grau de crueza até então inexperienciado. Notado através de chiados que preenchem a parte inferior da sonoridade, esse quesito faz com que a música, inclusive, construa uma paisagem mais orgânica. Por entre sobreposições vocais e uma atmosfera sonora etérea, These Are The Ways acaba retomando, com maestria, a sensorialidade ofertada em Do You Want Me. Em contrapartida, graças à presença mais viva e necessária do baixo, a presente obra se mostra estruturalmente mais firme e até mesmo mais coesa em relação à faixa de abertura.
É bonito e belo observar um álbum que se permite explorar texturas, simplesmente. Com Stand As A Rock, Dorine Levy coloca sobre os holofotes o post-rock e a sua máxima essência do experimentalismo e de instigar o interesse do espectador, principalmente pelo quesito tátil de suas sonoridades. Da maciez ao áspero. Do torpor tangenciando com o soturno. Do drama migrando para uma espécie de romance curiosamente altruísta. É assim que o material propõe uma profunda experiência pessoal.
Ainda que suas três primeiras obras chamem mais atenção por trazerem, de forma mais marcante, as qualidades listadas, a track list do álbum, com mais 15 títulos, tem muito mais a oferecer. Theif In The Night, por exemplo, traz uma sensualidade mais pungente por meio de sua estética levemente eletrônica que traz consigo, inclusive, uma essência new age e onírica. Além dela, Lost Cause se destaca pelo seu toque sombrio visceralmente melancólico e dramático. E Feel Alive, contrapondo diretamente com a energia nebulosa da faixa anteriormente citada, explora uma espécie de gratidão e ânimo pela vida. É por isso que Stand As A Rock pode ser tocante, mas também pungente.
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