O ambiente é escuro, mas o chão não é lamacento, limoso. Ele é concreto, com texturas ásperas, o que instiga certo grau de racionalidade no ouvinte. Começando uma viagem pelo desconhecido, o espectador ainda não sabe a totalidade de emoções que vai encontrar, mas uma coisa é certa: a tensão é uma delas. Surgida a partir de notas graves e espaçadas que, aparentemente, vêm do piano, elas dão vasão para um cenário sensitivo curiosamente esotérico em sua transcendentalidade mística. O curioso é perceber que, nesse meio tempo, Orestes (400 BC) consegue ser um produto dramático e azedo em seu minimalismo estético. Ainda assim, quando a voz da cantora entra completando as camadas melódicas, ela, com seu tom aberto e levemente fanhoso, traz um clima interessantemente religioso na forma como pronuncia as palavras, de tal forma que soa quase como uma prece. Uma oração dita por um sacerdote aos seus súditos. E tudo isso, com um aroma árabe marcante.
Surgindo de forma mais delicada e mais esvoaçante, o novo ambiente, ainda mais que aquele proposto anteriormente, oferece ao ouvinte a noção de se estar presenciando uma peça teatral em plena arena e sob a trilha sonora de uma ópera. Deixando mais claro seu tom, soprano, a voz, em First Delphic Hymn To Apollo (138 BC), tamanha sua sutileza consistente, vem como um cobertor abraçando o ouvinte em uma noite fria e chuvosa. Épica, a canção ainda tem uma reviravolta melódico-narrativa surpreendente quando os pratos se chocam fornecendo aquele sonar ressonante, ecoante e suavemente estridente em sua explosão chocante. É esse o instante em que First Delphic Hymn To Apollo (138 BC) se torna lacrimal, visceral e permissiva na sua própria experimentação harmônica.
Quando o Sol surge tímido além das montanhas e, consequentemente, formando a silhueta daquilo que se transforma na metáfora paisagística da ressurreição, há uma novidade na estrutura clássica até então explorada pelo duo Lopez & Arevalos. Em Hymns To Nemesis (1st Century AD), há aquilo que parece ser a inserção de ligeiras sonoridades percussivas como meio de trazer conotações rítmicas mais precisas e evidentes. Sem assombro, esses novos sonares de fato auxiliam na ambientação do ouvinte em relação ao tempo melódico, o qual é seguido pelo canto de forma a construir uma estrutura lírico-melódica cativante que enobrece a canção.
A forma como a cantora surge após o tremular da cítara vem em uma silhueta sonora capaz de hipnotizar o ouvinte a partir de sua agudez penetrante e consistente. É certo de que a introdução é um momento de abre-alas, de apresentação, mas o que acontece em Invocation To The Muse + Invocation To Calliopse And Apollo (1st Century AD) é diferente. O escopo harmônico-melódico já vem maduro e repleto de uma sensualidade, talvez, despropositada. Sob uma movimentação vocal capaz de soar como um mantra budista, a canção não apenas consegue entorpecer o ouvinte, mas também é capaz de fazê-lo praticar uma profunda experiência de introspecção que o faz acessar o mais íntimo de seu ser em um processo de autoconhecimento.
É certo que Teleion é um material de 12 faixas e pouco mais de 55 minutos de duração, mas a sua máxima experiência, o ápice de sua proposta experimental e sensitiva, se encontra logo nas quatro primeiras faixas. Ainda assim, é inegável que, pela sua grandiosidade estilística e aspecto amplamente sensorial, Invocation To The Muse + Invocation To Calliopse And Apollo (1st Century AD) se torna a faixa mais importante do trabalho.
Lançado por meio da Tunite Music, Teleion não é só um trabalho que permite uma viagem frequente entre o passado e o presente. É onde o ouvinte tem acesso à mais pura forma de arte. Onde o delicado toca o denso e o harmônico se funde ao drama. Aqui, as lágrimas se tornam algo religiosamente puro.
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