É verdade que a frase lírica, da forma como é exposta, exorta um excessivo uso de edição digital. Porém, ainda assim, essa súbita conjuntura de palavras dá ao ouvinte a capacidade de perceber interessantes nuances de R&B por entre um ecossistema ainda em processo de desenvolvimento. Fluindo através de um beat preciso e denso, uma sonoridade tremulante que percorre a dianteira melódica confere |à obra um viés psicodélico intrigante que nem as contribuições do subgrave e da guitarra conseguem barrar ou mesmo suavizar. Através desse ecossistema, Ever explora a delicadeza e o veludo por meio de texturas profundamente amorfinantes que facilmente conquistam a atenção do espectador.
Existe um toque de ousadia na presente introdução. Afinal, por mais que seja obra do sintetizador, a sonoridade proferida fornece ao ambiente uma natureza retro que remete às transições das décadas de 50 e 60. Graças, principalmente, ao toque charmoso de elementos de sopro, como o saxofone e o trompete, By Your Side desfila uma simetria rítmico-melódica calcada na paisagem do jazz. Se tornando charmosa através dessa incursão, portanto, a canção não se afasta dos caráteres de precisão e consistência percussivos, uma vez que o beat, aqui, soa ainda mais firme e pulsante do que na canção anterior. Explorando sensualidade, mas, ao mesmo tempo, uma espécie de sincrônica rigidez proveniente da textura do rap, a presente música ainda é agraciada por um groove encorpado que, vindo do baixo, dá à sonoridade ainda mais força para experimentar seu viés swingado.
Diferente daquilo que foi oferecido anteriormente, a presente obra já tem seu início marcado por uma paisagem digital que flerta, com certo destaque, com a estridência. Ainda assim, felizmente essa prerrogativa se esvai conforme o dulçor e o torpor se unem na criação de uma atmosfera não apenas transcendental, mas, também, amorfinante. De natureza curiosamente dançante, a presente faixa, assim como aconteceu com By Your Side, permite ao ouvinte a vivência de uma nova experiência sonoro-sensorial. Com sua sonoridade ligeiramente psicodélica, Transparency, através das brisas vocais aqui inseridas, faz com que sua atmosfera seja embebida em uma espécie de electro-soul amorfinante e contagiante.
Através de uma introdução charmosa, swingada, alegre e embebida em um caráter retro, a canção retoma sua experimentação jazz estacionada em Ever, mas com uma dose extra de classicismo. Aromaticamente floral através do protagonismo desenvolto do saxofone, Kermesse, com o auxílio de uma linha lírica desenvolvida por uma voz de timbre feminino e doce, deixa escapar, ainda, sons de um dulçor aveludado característico que parecem ser provenientes do clarinete, a tornando ainda mais bela e atraente.
Temperamental Cats é um disco que, sem dúvida, pode ser definido pela palavra encanto. Afinal, o que ele fornece ao ouvinte é uma viagem musical repleta de encantamento e texturas das mais diversas naturezas. Do dulçor, passando pelo veludo e transitando pelo frescor, o material faz com que todo e qualquer ouvinte se sinta confortável na jornada auditiva em torno de seus 11 capítulos.
Ainda assim, é inevitável a percepção de que, dentro de sua track list, as três primeiras obras merecem maior destaque por trazerem de maneira mais transparente as qualidades anteriormente citadas. Ainda assim, títulos como Fallen King, After The Party e Heaven são capazes de fornecer enaltecimentos no que tange o torpor e a imersão estética nas cenografias do rap e do soul, tornando Temperamental Cats um disco plural.
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