Não tem como fugir. Não tem aonde se esconder. O beat e o semblante sonoro que recebem o ouvinte já a partir dos primeiros instantes de vida da composição já surtem em um estado de energia cativante e, principalmente, dançante. O curioso é que esse senso dançante acaba não se concretizando efetivamente. Afinal, quando entra em seu primeiro verso, a canção propõe certa calmaria nos ânimos por trazer um cenário rítmico-melódico calmo e ligeiramente introspectivo. Dramática em sua essência graças à presença do violino preenchendo as lacunas harmônicas com seu veludo choroso, Aan het reizen se mostra uma canção que tem na voz grave, mas bastante afinada do cantor, como único elemento a contribuir com uma textura mais ríspida. Enquanto ela tenta romper com a densidade entorpecente criada na atmosfera, a faixa, no momento em que entra em seu refrão, garante, enfim, aquela estrutura dançante preludiada em seu despertar. Mas não se engane. Não é uma dança intensa e cheia de sorrisos. Ela é branda. E isso acontece pelo grande flerte da obra para com a paisagem do indie pop.
É interessante perceber que, desde sua introdução, a canção consegue oferecer sinais de suspense e certo grau de densidade, principalmente através da maneira com que o beat se comunica com o ouvinte. Sabendo que a estrutura e a interpretação lírica assumidas nesses momentos iniciais auxiliam nessa constatação pela simples razão de soarem, mesmo que suavemente, fantasmagórica. No entanto, quanto mais se desenvolve, mais a faixa vai evidenciando sua natureza contagiante e, felizmente, fluida. Graças à adoção de subgraves e à imersão lírica no campo do rap, questão perceptível por meio da presença de versos sincopados, a canção passa a ofertar uma cenografia completamente nova em relação àquela ofertada na faixa anterior. E o que surpreende é que, em Krabbels, há até mesmo a incursão de sons estridentes em sua forma sintética, o que confere à obra notas de um incômodo sonoro breve, mas proposital.
A mesma voz aveludada e limpa que regeu Krabbels retorna para guiar o ouvinte nesse enredo lírico em processo de desenvolvimento. Eis que, entre versos cantados em uma cadência mais acessível às massas, a sonoridade que se tem, na base melódica, traz consigo uma paisagem eletrônica que, mesmo embrionariamente, parece comunicar a imersão no campo da house music. Como era de se esperar, essa premissa se confirma no refrão, fazendo de Na de adem uma canção dançante, mas que, em virtude do tom vocal e da interpretação lírica adotados, sugere certo grau de reflexão e até mesmo introspecção.
Terug van weggeweest é um álbum que pode ser descrito como experimental. Regido por diversas camadas sonoras, o material, em meio às suas oito faixas, caminha por terrenos estético-estruturais distintos que dão ao espectador a oportunidade de captar diferentes energias. Ao puro entretenimento dançante, passando pela introspecção e chegando à melancolia, o material é uma viagem sensorial.
Ainda que sejam nas suas três primeiras faixas que esses detalhes são encontrados de maneira mais enfática, Daar met mij também se destaca por ser, talvez, a faixa mais radiofônica, alegre e lexicalmente contagiante de todo o álbum. É por isso que Terug van weggeweest também pode ser visto como um produto plural.
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