Seu despertar é curto, quase cru. Executado por alguns rápidos golpes na caixa da bateria a ponto de criar um som levemente estridente, ele dá passagem para um primeiro verso que, sem demora, introduz o ouvinte a um ambiente confortavelmente fresco em sua cadência melódica amaciada. De atmosfera delicada graças à afinação da guitarra em união a uma cama sonora sensível e aveludada fornecida pelo teclado, a canção é capaz de entorpecer o espectador mesmo sendo regida por uma base rítmica majoritariamente linear. No entanto, Every Single Day surpreende pelas suas harmonias delicadas e humanas que, com o auxílio de um vocal masculino de timbre ligeiramente grave, instigam o ouvinte a absorver uma espécie de ensinamento de conseguir enxergar a esperança, a força, a persistência e a perseverança mesmo diante de dias cinzas.
Como o Sol surgindo em seu máximo esplendor atrás das montanhas trazendo a chegada do amanhecer, o sonar da distorção da guitarra causa um efeito curiosamente enérgico e estimulante no ouvinte. No entanto, a maneira como ela amadurece e se combina tanto com a levada da bateria quanto por um sonar agudo e ecoante posicionado na dianteira melódica, acaba criando uma atmosfera curiosamente dramática e tensa, com direito, inclusive, a percepções sensitivas ligeiramente sombrias. Tais percepções se confirmam a partir da entrada do vocal e da maneira com que interpreta os versos líricos. Nesse processo, é interessante, e até mesmo curioso, de se perceber a construção de uma atmosfera harmônico-rítmico-melódica que traz, consigo, identidades que rememoram certas estéticas sonoras do Ramones. Se tornando intensa, áspera e visceral, Waterfall é onde o The Daytime High dialoga sobre a necessidade de reconexão consigo mesmo, sobre as noções de pertencimento, mas, acima de tudo, sobre a compreensão das próprias emoções que levam a um profundo processo de autoconhecimento.
Enquanto a bateria surge por meio de uma levada surpreendentemente amaciada, o piano, através de suas notas graves, não sugere apenas drama, mas certo grau de introspecção de senso reflexivo. Nesse processo introdutório, o ouvinte consegue identificar, ainda, a contribuição do baixo no escopo melódico com seu groove bojudo e encorpado, o qual dá sustentação e uma maior liberdade para a experimentação sonora. Fluindo para um primeiro verso de atmosfera introspectiva, Never Good Enough acaba se maturando como uma canção de energia não apenas melancólica, mas capaz de induzir o ouvinte a uma espécie de tristeza insustentável e pegajosamente depressiva. Afinal, aqui existe o recorte de um personagem que nunca se sente reconhecido, capaz ou mesmo merecedor do que quer que seja. Um indivíduo imbuído em um descontentamento e uma falta de pertencimento tão grandes que vê, na morte, uma solução fúnebre, mas imediata, para a sua angústia desesperada e rascante.
The Daytime High não é apenas um material experimental no que concerne a sensibilidade energética. É onde o grupo dialoga sobre temas de extrema delicadeza por meio de atmosferas melódicas e harmônicas capazes de representar a dor, o sufoco, a angústia e a melancolia profunda vivenciada pelos seus 10 personagens líricos. Não existe consenso quanto à gravidade e à motivação das dores, mas elas estão aqui, em cada enredo, em cada nota, em cada suspiro.
É por isso que, já a partir das três primeiras faixas do álbum, o ouvinte percebe a necessidade de ser agraciado por um mínimo de maturidade e equilíbrio emocionais para conseguir acessar os mundos sombrios e cinzas das canções compostas pelo The Daytime High. Afinal, elas mostram a pura desesperança de indivíduos sem meios de extravasar o sofrimento. Ainda assim, existe algo belo ao notar que, de alguma forma, o grupo sempre tenta mostrar a existência da esperança no alvorecer de cada novo dia.
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