Seu início é fresco como a primeira brisa da manhã vinda de uma colina nórdica. Seu céu de aparência translúcida e espelhada traz um céu azul em um tom de brilho controlado a ponto de não cansar os olhos. Dele vem uma energia graciosa que traz ao ouvinte sensações de certos êxtases de bem-estar e de um reconfortante senso de paz. De atmosfera folk, sua melodia macia é continuada a partir de versos líricos introduzidos por uma voz de timbre ríspido e de leve acidez. Entre o violão e um sonar percussivo seco, Terje Gravdal faz da faixa-título uma canção harmônica em sua melodia folk nórdica que, com o sonar agudo-áspero da sanfona, lhe confere uma ambiência até mesmo irlandesa ao seu estilo de execução. É assim que a canção acaba dialogando, metaforicamente com a figura da Bíblia, sobre um roteiro de como angariar mais conquistas por meio de um jogo de confiança e manipulação.
Saindo do folk nórdico, Gravdal surpreende o ouvinte ao apresentar um ambiente reconfortante, macio, aveludado e carinhosamente sensual a partir de um blues suave e doce. Explorando texturas como o sonar adocicadamente sereno do fender rhodes, o cantor, ao despertar da canção, fica longe do microfone em um gesto de gentileza e educação para com Tuva Hidle Gravdal. Afinal, é ela quem domina os versos líricos iniciais com seu timbre sereno, rouco e de uma singela agudez. Com tal presença, o vocalista, entre os duetos, faz da canção uma obra amorosa e romântica de extrema sinceridade emocional que acaba contagiando até mesmo os corações mais feridos.
Retomando a suavidade estonteante do folk, Gravdal entrega o novo amanhecer ao ouvinte somente por meio de um riff generosamente delicado do violão. Surpreendendo por ser gentilmente harmoniosa com poucos instrumentos, There’s A Man arrepia os pelos do ouvinte pela forma como explora a simplicidade melódica em meio a uma ambiência fresca e reflexiva que trata sobre um homem preso em seu cerne workaholic.
Assim como em Stay, Tuva retoma a dianteira nos vocais, enquanto, novamente, o blues toma conta do espectro melódico e a energia romântica reassume seu posto sensitivo. Curiosamente, por meio da cadência lírica, rememorando aquela criada por Tim Mclrath em People Lived Here, single do Rise Against, Diamond In My Soul entorpece o ouvinte com seus duetos que externizam toda gratidão pelo personagem lírico ter conhecido sua alma gêmea.
Apesar de não ser romântica, Industrial Workers segue com a base rítmico-melódica do blues, enquanto vai, paulatinamente, se tornando uma ode de gratidão pelo trabalho dos trabalhadores industriais e pelo peso de suas tarefas na construção da possibilidade de a sociedade global, no geral, poder ter uma vida confortável. Misturando o folk em sua melodia, a canção cativa pela sua sonoridade aveludada e entorpecida com direito a uma cama ácida e psicodélica vinda da reprodução do sonar do Hammond organ.
The Gambler é um EP de melodias estonteantemente agradáveis que, com gentileza e carinho, convida o ouvinte a se deliciar por canções de cunho reflexivo, mas também de amor, de paixão. De gratidão. Um trabalho em que Gravdal conseguiu fazer da emoção algo palpável e sonoramente extrassensorial.
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Instagram: https://www.instagram.com/terjegravdal
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