Seu despertar é, no mínimo, surpreendente. Afinal, quando o ouvinte estava esperando por um processo gradativo de sonoridade, seguindo a estética padrão, a canção logo fornece uma harmonia vocal tão simétrica e sintonizada que faz com que o arrepio seja algo incontrolável. Misturando, a partir daí, referências ao gospel e ao soul, a faixa vai caminhando, com suavidade e charme, para uma atmosfera rappeada graças à forma como Kohn, com seu timbre agridoce e de toques ácidos, vai desenhando o enredo lírico. Na companhia de Big Bro nos vocais, I Am se matura, definitivamente, como uma obra rap com flertes traps capazes de prover movimento, fluidez e contágio a partir de um beat sincopado e marcante.
O amanhecer da canção propõe, surpreendentemente, a introspecção. Por meio de sua sonoridade aguda e sintética, não apenas o esotérico é percebido na forma de uma rápida brisa, mas, principalmente, o senso de torpor é assumido pelo espectador. Mantendo a delicadeza e oferecendo toques melancólicos, Clarity é uma canção pronunciada inteiramente por Kohn. Nela, o vocalista adquire uma cadência mais acelerada em meio à sua atmosfera sombria e ligeiramente marginal que tem, no teclado, o elemento que salta aos ouvidos pela sua sutileza sonora. É por meio dela, inclusive, que a obra consegue difundir todo o seu sentimentalismo.
Regida por uma participação precisa, consistente, necessária e indispensável dos subgraves como uma forma de prover mais pressão na base rítmica, Rapsodic rapidamente se mostra uma canção sincopada graças à forma com que os chimbais se pronunciam na construção do beat. Por meio deles, não apenas a noção de movimento é garantida, mas, também, a confirmação de uma ambiência cenográfica profundamente urbana. Com essa receita, a canção encaminha o ouvinte para um refrão que se mostra o único momento em que o espectador consegue se deixar levar, mesmo que minimamente, por um senso de embriaguez.
O piano é o elemento que puxa a introdução. Solitário e capaz de promover um senso de profunda melancolia, o instrumento surge delicado, mas sem conseguir segurar suas emoções entristecidas. Lacrimal, portanto, esse amanhecer minimalista encaminha o espectador para um rap curiosamente melódico em sua tomada introspectiva que conta, novamente, com a presença de Big Bro nos vocais. Por meio dessa nova parceria, Overboard se torna mais um título do álbum a explorar não apenas uma energia cabisbaixa, mas, acima de tudo, a introspecção. Tudo a partir de uma melodia sintética de caráter dramático e, principalmente, tocante.
The Space Between não pode ser considerado apenas como o primeiro full-length de Kohn. O material é onde o rapper abre as portas de seu coração e escancara a gama de emoções represadas em seu interior. Sentimentos esses que o acompanham em uma desafiadora perspectiva sobre sua própria vida.
Acima de tudo, por meio de The Space Between, o artista explora seu processo de amadurecimento, enquanto utiliza a sua sabedoria para se tornar a pessoa a qual foi destinado a ser. Tais questões, inclusive, são claramente evidenciadas já nos quatro primeiros títulos do disco.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/artist/2rbPt74h4xXu5AzxjchVcF?si=HPY4dZg8TYaTGvBipvFJ_g
Instagram: https://www.instagram.com/kohnmusic/
Facebook: https://www.facebook.com/kohnmusic/