É um verdadeiro falatório. Um intenso burburinho de vozes se confundindo entre si, moldando, de maneira orgânica, a atmosfera introdutória da obra. Rapidamente, porém, o baixo entra em cena como uma espécie de relâmpago bojudo apoiado no encorpamento afiado de seu groove. Como uma espécie de abre-alas ao instrumental, esse elemento permite a entrada de um instrumento que parece ser a sítara através de uma sonoridade alegre, mas um tanto sensual. Possibilitando a ambiência do ouvinte em meio a um cenário capaz de estar no entremeio da Europa Oriental e a Ásia, esse elemento vai aprofundando a sensibilidade do espectador, mais precisamente, para uma cenografia melódica turco-marroquina que é agraciada pelo frescor do violão seguidamente presente na receita melódica. Atraente e contagiante em meio à sua estética minimalista e de toques folks, Birdhouse hipnotiza o espectador graças ao seu viés interessantemente festivo.
O swing é algo mais que presente na nova ambiência rítmico-melódica. Através dele, sua maciez e sua malemolência, a sonoridade da obra desfila agradáveis notas de frescor envoltas em uma provocação saliente graças ao sonar vivaz, áspero e curiosamente aveludado do saxofone. Sincopada em sua atmosfera reggae graças ao compasso rítmico da bateria em concordância com o groove desenhado pelo baixo, a canção acaba, indireta e interessantemente, flertando, instrumentalmente, com uma paisagem estética inerente ao soul. Estruturalmente linear, The Circus Is In Town tem, tanto na cadência quanto no enredo lírico apresentado pela voz de essência intermediária de Josh Jensen, o elemento principal que fornece, ao ouvinte, os sensos de fluidez e movimento.
Das duas canções anteriormente apresentadas, finalmente é chegada aquela que melhor representa, em todos os aspectos, a origem e a essência do folk. Por meio de uma ambiência encantadora e contagiantemente bucólica, a canção prende a atenção do ouvinte em virtude de sua receita mais elaborada de texturas. Desde o dulçor brando e esvoaçante do violino ao sonar típico e excêntrico do banjo, a canção faz com que o espectador se perceba imerso em uma área rural sob um céu azul e ensolarado. Se baseando em uma frase rítmica brevemente crocante através de seus toques quebrados, a obra suscita um viés ondulante e delicadamente trotante. Fresca em sua máxima essência, Dusty Roads And Broken Dreams ainda chama a atenção pela camada pulsante do sonar adocicadamente ácido do hammond reproduzida pelo teclado, auxiliando, junto ao violino, na construção de seu entorno harmônico. Com esse arranjo, a canção segue a assinatura de Jensen em fazer com que suas canções transmitam certo grau de alegria e ânimo.
É um material, no mínimo, interessante. Afinal, ele não deixa claro, desde seu início, qual o gênero musical que será a base de seus enredos. É como se ele instigasse a curiosidade do ouvinte com requintes de um suspense aflitivo. Em verdade, no entanto, This Is Where We Landed não demora em demasia para comunicar que é o folk o seu guia. Marcado por uma estrutura aromática e bastante harmônica, o álbum se destaca principalmente pela sua alegria e senso de festividade.
Contudo, esse é um detalhe que marca o material pelo fato de ser um produto conceitual que acaba dialogando sobre as experiências pessoais de Josh Jansen inerentes à batalha de sua esposa contra o câncer de mama. É por isso que o álbum se destaca por dividir sua sonoridade e sua energia entre a densidade e a seriedade com a leveza e a diversão, algo que fica saliente principalmente através de suas três primeiras obras. Claro que a delicada e tocante Across The Sky, e a curiosamente branda e swingada Hello, Hysteria também merecem destaque, pois elas auxiliam na percepção dessa dicotomia sensorial presente entre som e lirismo.
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