O piano desliza com facilidade já proporcionando uma energia swingada e dançante. Com uma risada irônica sendo ouvida ao fundo e a bateria entrando com uma levada sincopada em sua estética disco, Main Man não demora para mostrar seu groove, sua sensualidade e ambientar o ouvinte em noitadas festivas dos anos 70. De melodia hipnótica e penetrante, a canção tem nos sonares tilintantes e na agudez do teclado seus chamarizes que marcam toda a sua execução.
Ao contrário de Main Man, nesse novo cenário, o que marca a melodia é o groove gordo do baixo na base melódica. Contudo, não apenas ele. Work, Work, Work traz uma acidez penetrante que perambula por todo o ambiente da canção e ele se deve ao mellotron. Dando uma noção ainda mais hipnótica, o instrumento se torna essencial para o desenho estético da música, que mantém sua essência firme na temática disco. Ainda que não seja tão dançante quanto a composição anterior, Work, Work, Work é agraciada por um refrão de caráter épico e ao mesmo tempo gélido.
Com uma levada rápida e quebrada da bateria, Shrink tem sua introdução declarada enquanto passa a transitar por um ambiente cheio de um dulçor sintético que retoma, felizmente, o caráter dançante estacionado em Main Man. Conseguindo, porém, ser ainda mais convidativa que a abre-alas de Vendetta Del Disco, aqui a canção foge das referências de Elton John e Queen para flertar com uma roupagem mais ao estilo Michael Jackson por ter requintes de funk trazidos pela levada da bateria. Parecendo ser mais bem trabalhada sonoramente que as demais canções apresentadas até aqui, Shrink traz a bateria lidando com a flauta, o baixo, o teclado, o piano e com os backing vocals que ampliam sua noção harmônica durante o refrão.
Adocicada e estranhamente confortável em sua melancolia, Fool surge como uma canção delicada em seu embrionário e aparente sofrimento moral. Dolorida e trazendo um personagem lírico embebido em culpa, a canção tem no piano o protagonismo estético, mas recai sobre o baixo o peso do sentimentalismo sofredor. Fool é agraciada, ainda, por um refrão de versos curtos, mas cuja melodia e harmonia a tornam marcante a tal ponto que transformam também a canção em uma balada marcante, apesar de sua visceralidade entorpecidamente dolente.
Robert Vendette faz de Vendetta Del Disco não apenas uma celebração à disco music, mas um material de amplas harmonias, de melodias dançantes e marcantes e de experimentações que deixam sua sonoridade ainda mais grandiosa. Com direito a baladas melancólicas, o álbum consegue recriar a ambiência dos anos 70 em sua estética ácida, mas também em sua proposta entorpecente de enxergar na noite e na dança o escapismo dos problemas socio-rotineiros.
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