O cenário melódico apresentado já sugere algo sombrio, marginal. De atmosfera urbana noturna, a introdução é capaz de ser, inclusive, sombria em sua essência. Rapidamente fluindo para um primeiro verso formado, essencialmente, pela textura grave do timbre da voz de Youngworldibi em união ao compasso sistemático do beat, o ouvinte é tomado por uma energia curiosamente dramática.
De cadência verbal ligeiramente pausada, a ponto de fazer o ouvinte conseguir identificar cada palavra proferida, o rapper caminha, inclusive, sob a companhia de subgraves pontuais posicionados na esfera rítmica para lhe garantir mais precisão e consistência. Curiosamente, a estrutura lírica oferecida traz um quê de ousadia que a coloca em uma espécie de patamar único no rap.
Isso acontece simplesmente porque o lirismo estruturado por Youngworldibi não é calcado, essencialmente, em rimas para garantir uma maior conectividade e memorização de seu conteúdo por parte do ouvinte. Sob essa estrutura inovadora, Blue Pills é onde o rapper critica e questiona a cultura não do consumismo, mas do simples desejo pelo dinheiro e pelo que ele representa. Onde ele se rebela, acima de tudo, pela aquisição fácil de moeda no meio suburbano. Não é à toa que o ouvinte consegue sentir seu tom não de superioridade, mas de consciência em meio a um comportamento aparentemente institucionalizado que leva o cidadão ao caminho mais fácil ante o mais certo.
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